quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Conto coletivo?

  Já tem um tempo que não posto nada além da "Chuva" não é mesmo? Percebi que deveria fazer algo "novo"; algo diferente. Eu só não sabia o que... Felizmente, há um dia, uma luz se fez em meu caminho.
  Resolvi mostrar o blog para o Márcio, meu cunhado, que  me veio com uma brilhante idéia. Como o próprio titulo do post já diz, trata-se de um "conto coletivo". Funciona da seguinte forma: Nos comentários desta postagem - que estará linkada na lateral superior direita do blog -  será escrito um conto. A pessoa que iniciar a narrativa (a primeira a comentar) deve escrever um pequeno texto, e aqui postá-lo.
  Por enquanto é só. Espero sinceramente que este projeto dê certo e siga em frente - e estou torcendo por isso -, e que todos se divirtam.

PS: Todos os comentários deverão contar, inicialmente, um parágrafo que dê continuidade ao anterior. Caso contrário,será imediatamente excluído.

15 comentários:

  1. Era a última tarde do mês que precedia o inverno. A brisa estava tão fria que meus pulmões precisavam trabalhar mais que o normal na ação tão simples que é caminhar. E eu caminhava. Desde a primeira hora da manhã. As nuvens se formavam escuras, eu continuava caminhando. Ficou para trás há semanas a derradeira vez que vi um rosto humano. Minhas dúvidas continuavam atormentando meus objetivos. Tudo leva a crer que estou no caminho certo: o mapa, a bússola, a demarcação da rota segura, os conselhos da sacerdotisa, e, o mais importante, o punhal que herdei por ter realizado um grande feito. Continuo caminhando. Não posso deixar de encarar o meu destino, meus objetivos se confundem com os próprios desígnios da natureza. Não há nada que possa sequer atrasar minha jornada. A não ser...

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  2. ...uma tempestade. Não era nem um pouco impressionante uma tempestade chegar, com o inverno tão proximo e as nuvens escurecendo o belo céu.
    Apesar de não desejar parar devido a importância de minha tarefa e tambem devido ao tempo que se esgotava, era necessário, afinal, eu ainda possuia alguns dias, e ficar doente atrasaria a viagem mais do que apenas uma noite.
    Procurei algum local no qual pudesse descansar sem me molhar - caso contrario, seria melhor seguir viajando - porem tardei a encontrar tal lugar. Após ja estar gripado de tanto vasculhar os campos - que estavam vazios e devastados após a guerra - acabei encontrando uma pequena caverna, em uma colina. Perfeito! Seria um local seguro para passar a noite, caso não existam animais grandes demais para eu matar. Porem, quando comecei a me aproximar da tal caverna, notei algo inesperado. Apesar de todas as vilas estarem devastadas, havia um doce odor vindo de dentro daquela caverna, era cheiro de...

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  3. ...ervas de cura. Me aproximei furtivamente - eu realmente precisava de ervas de cura após tal chuva - porém, não foi o suficiente para não ser notado. Sem pensar, pego meu punhal e espero o ataque. Nada, nenhum movimento sequer, apenas um baixo grunhido. Novamente sigo até o local e pra minha surpresa, um elfo! Ao me aproximar, ele tenta, mas não consegue se afastar. Sem sentir nenhuma outra presença na caverna, logo noto que o perigo para ele, sou eu. Após dizer meu nome, digo que vim em paz e que apenas gostaria de um abrigo para fugir da chuva e se não fosse problema, um pouco de suas ervas. Sem pestanejar ele cede uma pequena quantidade de ervas - pouco, mas o suficiente para o que eu preciso - e divide o abrigo comigo. Com receio, mas curioso, queria saber o porque de um elfo estar tão longe de casa e profundamente ferido, perguntei. Ele conta que o reino onde mora, o enviou para uma missão simples, ele tinha apenas que recolher porções de vários tipos ervas, mas acabou se afastando muito do local indicado para a tarefa e acabou sendo atacado por um bando de...

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  4. ...ladrões de almas.

    Os ladões de almas fazem fortuna nestes tempos mais rápido que qualquer outra criatura. Depois da Grande Queda, o mercado de peles acabou se tornando um sinistro preposto de contrabandistas: alma de elfo, crianças humanas, coro de unicórnio, luz de fada... tudo é apenas mercadoria para aquelas criaturas. Os útimos anos tem sido assim. Só há trevas e desencantamento. Nenhum sistema de governo, nenhuma liderança, nenhuma religião. Apenas nós, uns poucos tolos, tentamos resguardar a luz que resta, sob a triste alcunha de "Benfeitores". Qual nada. O que posso benfazer em tempos tão sombrios? Nenhuma raça alia-se a outra. Nem mesmo entre os homens há esperança. O governo dos homens se foi há tempos, em tentativas divididas de instaurar qualquer tipo de Estado. Agora ninguém se importa. Eu temo estar no lugar errado do tempo. Não sou herói. O que posso estar fazendo em uma liga de bravos Benfeitores? Era o que o elfo me perguntava. Soube que seu nome é Belgriim. Me levou até sua vila e, por mais que a maldade tenha rondado os passos de minhas andanças, não pude acreditar no que vi...

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  5. ... Era como se o próprio inferno estivesse sobre a terra. Gritos corriam as ruas do vilarejo; gritos de dor e de sofrimento, implorando por socorro e morte. Ninguém mais estava vivo, e eu duvidava de que até mesmo nós estivéssemos ainda. Um urro se sobressaiu sobre as demais vozes; era Belgriim, lamentando sua perda, chorando a desgraça de seu povo e jurando vingança.
    Mais tarde, quando já recuperados, achei que deveríamos conversar. Assim fizemos, por uma tarde toda. Nunca poderei compreender seu sentimento, mas, naquele momento, ele se sobrepunha sobre toda e qualquer influência externa. Tudo o que ele conhecia, e tudo o que ele mais amava foi destruído... Mercadores de almas. Malditos sejam todos eles! Jurando fidelidade à mim, Belgriim, o elfo, prometeu me seguir em minha missão. Ele já não tinha mais nenhum outro objetivo, a não ser a vingança. Qualquer um poderia sentir se instinto assassino a milhas de distância. De qualquer forma, creio que as chances de sucesso de eu completar minha missão com vida almentaram consideravelmente. Estávamos preparados. Já tinha-mos tudo o que nós precisava-mos; um motivo para seguir em frente. Afinal, estávamos seguindo para...

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  6. ... Gargala. Um local terrível, onde ninguém mais ousava entrar. Infelizmente - ou talvez, eu não deva levar desse modo - fui designado para tal sacrifício pela própria sacerdotisa. Apenas três pessoas podiam vê-la: O Nobre Clérigo, o mestre da vila, e... O Cavaleiro Negro; o ser mais temido de todo o reino. Mesmo os ladrões de almas o temiam.. Ele vivia em nossa vila, porém, ninguém sabe onde. Ouvi rumores de que ele foi para Gargala. O Cavaleiro Negro é um desertor da tropa de elite do nosso reino, treinado pelos guerreiros mais fortes de todos os cinco grandes impérios. Minha missão é encontrá-lo e convence-lo de voltar, pois, sem ele, o reino se torna vulnerável a esse miseráveis ladrões de almas. Seguir em frente não seria problema, se não fossem as...

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  7. [Escrito por: Zayon Owatari]

    ...Harpias, com suas terríveis garras, afiadas o suficiente para destroçar um mamute. Precisariamos de alguma espécie de armadura muito resitente para passar por elas sem sair feridos, tais quais que não tinhamos. As harpias ficavam entre a fronteira de Gargala e o Vale do Silêncio. Eu e Belgriim, decidimos ir até o Vale do Silêncio, onde ele ouviu rumores de haver sobreviventes. Nós caminhavamos e o tempo continuava escuro, porém, a chuva tinha ido embora, quando chegamos lá, fomos surpriêndidos por um saqueador que...

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  8. ...se aproximou nos ameaçando com sua faca.
    É quase que desnecessário dizer que foi vencido,apesar de ter nos causado um susto.
    Nos aproveitamos da situação em que ele se encontrava - encurralado por um humano e um elfo - para ameaçar o ladrão e faze-lo nos conseguir informações.
    -Se quiser continuar vivo, nos consiga uma armadura, ou pelo menos informação de aonde podemos conseguir uma!
    O saqueador ficou desesperado, pensativo por um instante, e disse não possuir armaduras e nem saber aonde poderíamos consegui-las.
    -As únicas vilas que não perderam seus ferreiros após a grande guerra devem estar a meses de viagem daqui!
    Provavelmente era verdade, pensei, mas queria ver se conseguia algo, afinal, esse saqueador talvez tivesse algo que pudesse nos ajudar.
    -Então morrerá, já que não nos dará nossa armadura.
    Desesperado, quase em prantos, o saqueador gritou:
    -Por favor, não me mate! Eu posso te dar meu manto eólico! Um manto de ventos, que pode te tornar invisível, foi ele que usei pra me aproximar de vocês!

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  9. Um manto eólico? Não era uma armadura. Ainda seriamos ouvidos, ainda poderíamos ser mortos, mas tínhamos alguma chance. Talvez. Pegamos o manto do ladrão e o libertamos. Seguimos para o Vale do Silêncio e já o enxergávamos ao longe e eu começava a entender porque ele recebera esse nome, quando eu entendi que havíamos cometido um grande erro. Havíamos deixado o ladrão com vida, contando que não voltaria por honra ou medo. Era o tipo de erro que todos em minha vila disseram que eu iria cometer. Passei tempo demais ouvindo que uma mulher é condescende quando precisa ser forte. Mas que droga, tinha conquistado o punhal com minhas mãos e agora... Agora não havia feito o que era preciso. Não havia mais honra naquelas terras, e agora que nosso amigo retornou, não estava tão inofensivo.

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  10. Belgriim caminhava ao meu lado esperando pela resposta a sua pergunta: meu nome. Eu pensava se deveria responder, de acordo com o estatuto dos Benfeitores. Nisso, o elfo parou e examinou cada item natural ao redor. As pedras, os galhos, as flores, as nuvens, a umidade do ar. Tudo parecia depor para aquela criatura. Sem aviso, girou rapidamente sobre os calcanhares ao mesmo tempo em que sacava a pequena faca sob a capa. Um arremesso certeiro encontrou o centro da testa daquele saqueador, um perigo que eu mesma já pressentia. Aquele não era um mero saqueador, era um contrabandista de almas e agora seu grupo cercava a clareira em que nos encontrávamos. Havia no cerco ao menos quarenta homens. Eu contava com o meu punhal, a capa eólica e a ajuda daquele novo amigo. Fácil tarefa. Ganhei o respeito do Corpo dos Benfeitores conquistando missões de maior envergadura. Um quarto de hora e centenas de golpes depois, os inimigos foram abatidos. Belgriim olhou nos meus olhos com aquela calma élfica: “nada mal para uma fêmea de sua espécie”. Apenas sorri. Entre os meus já havia sido comum aquele tipo de afirmação. Não fiquei surpresa. Após uma pequena caminhada em direção ao vilarejo, encontramos o acampamento daqueles contrabandistas. O elfo parou bruscamente e soltou um urro que jamais compreendi como poderia ter sido formado em sua garganta, pois a intensidade do tom era greve como um urro sob uma caverna. Meu companheiro de caminhada disparou em direção a uma das carroças. Um homem muito grande – que provavelmente estivera incumbido de vigiar o acampamento – tombou tão rápido sob a lâmina do elfo que mal pude perceber o golpe. Belgriim saltou para dentro da carroça e trouxe de lá um baú. “O que é isso”, perguntei-lhe. “Eu sinto que neste baú estão guardadas as almas de todos os meus parentes que habitavam a Vila do Sul, minha vila”, respondeu. “O que está esperando? Abra”. “Não sei se terei coragem”. Era a primeira vez que via Belgriim mostrar algum tipo de emoção. Nem mesmo o massacre de sua vila o intimidara daquela forma. Belgriim, não temia a morte. Contou-me que para os elfos a transitoriedade desse corpo vivo não é o mesmo que o fim da vida élfica. Depois da morte, segundo suas crenças, os elfos retornam à Grande Casa para serem refundidos à natureza. Agora ele estava ali, prestes a libertar as almas de seus parentes – mais rápido do que previra em seu juramento – e mal tinha forças para destrancar a caixa a sua frente. Talvez achasse que responsável pelo envio das almas à Grande Casa era o mesmo que ser responsável por suas mortes. Sem nada lhe perguntar, golpeei a tranca da arca. O choque despertou-o de um transe e, por puro reflexo, pulou sobre mim com a faca em punho. Defendi seu golpe sem machucá-lo, pois, para mim, seria fácil fazê-lo. Subitamente o baú começou a brilhar e pelo menos duas centenas de pequenas luzes começaram a flutuar ao redor da campina. Cada luz se infiltrava em outro elemento natural. Preenchiam plantas, folhas, minas d’água, vapores, terra. E todos os corpos preenchidos brilhavam por alguns segundos. “então é isso que acontece quando morremos?”, perguntou-se o elfo. Olhei para ele compadecida: “Belgriim... Solipseia”. “O que você disse?”, perguntou. “Esse é meu nome: Solipseia”. “É um belo nome para uma brava. Irei com você a qualquer lugar”. Belgriim, pelo que se sabia, era o último elfo vivo em nosso mundo. Outros como ele seriam encontrados apenas no hemisfério norte. Para encontrá-los seria necessário caminhar uma centena de centenas de léguas. Não faríamos isso. Os Benfeitores devem caminhar em seus caminhos e devem caminhar solitários, essa era a lei desde a Grande Queda. Mas entendi naquele instante a dor de Belgriim e não podia deixá-lo ir ou abandoná-lo à sorte. Para não abrir mão daquele habilidoso e competente companheiro e não contrariar o Corpo dos Benfeitores, declarei-o meu prisioneiro, sob a acusação de ataque pessoal. Como não usei correntes ou qualquer artifício para prendê-lo, o esperto Belgriim compreendeu imediatamente minha estratégia e me fez uma reverência.

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  11. Nossos caminhos seriam um só. Eu teria um aliado, mas seria um acordo sem palavras. Assim começamos nossa caminhada: não falamos uma palavra sobre isso. Belgriim, solitário em um mundo de caos, passou a me seguir em uma busca que, creio, não serei capaz de finalizar.

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  12. Talvez devessemos ir até o hemisfério norte, e então pedir ajuda de alguns elfos, mas perderiamos muito tempo, pois estávamos a centenas de leguás de lá. Continuamos caminhando então, chegamos ao sombrio vale do silêncio, ao entrarmos, percebi que Belgriim, ia falar algo, rapidamente, tapei sua boca com minha mão, e fiz um sinal com minha mão para fazer silêncio. No Vale do Silêncio, se você fala qualquer coisa, a força das naturezas te pegam, e ninguem teria mais notícias sobre você, não queria que isso acontece-se a nós, muito menos, a nossa missão. Foi quando tive minha idéia, fazer um pequeno arco para Belgriim, ajudaria-nos muito, uma defesa, um arma! Então começamos a procurar,em silêncio, madeiras fexiveís, e um cipó forte e firme, peguei meu punhal e comecei a moldar o tronco. Em algumas horas, nós obtemos o arco, e em poucos minutos, um pouco de flecha, caminhamos então, e achamos um grupo de ladrões de almas, rapidamente nos cobrimos com o manto eólico e então...

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  13. A caravana dos salteadores passou por nós. A visão que tivemos em seguida levará muitas eras para ser apagada de nossa memória. Os Contrabandistas entraram no vale do silêncio fazendo suas cantorias regadas por vinho de centeio. O barulho que os infelizes fizeram poderia ser ouvido por léguas. Não houve sobreviventes... Alguns anos se passaram desde então. Nossa busca começava a chatear Belgriim que, embora nunca reclamasse abertamente, ia perdendo a alegria do combate. Em silêncio, o elfo me interrogava com os olhos todos os dias. Acontecimentos sombrios invadiram o velho mundo desde o dia da Grande Queda. Nos últimos três anos, a Luz sumiu do céu. Uma noite treda surgiu. A profecia estava se cumprindo. Belgriim tinha certeza de que eu estava diretamente ligada àqueles fatos. Na primeira manhã de inverno – tão escura quanto a própria meia noite – o elfo finalmente fez sua pergunta. “O que você está procurando, afinal? O que você, ou melhor, nós, temos com essa escuridão? Já contamos o terceiro inverno desde nosso encontro e eu nunca lhe pedi respostas, mas sinto que hoje o peso de todo o Velho Mundo vai sobre suas costas. Conte-me. Ouvirei com paciência.”

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  14. Pobre, Belgriim. Tão belo e puro em sua aura élfica. Mal sabendo o que o mundo reserva para nossas vidas. Não há saída. O velho mundo vai mudar. Não conseguirei cumprir minha missão. Provavelmente muitos invernos virão depois deste. As trevas ficarão mais fortes. Decidi não ocultar mais a minha vergonha. Esse amigo já se mostrara fiel diversas vezes e, em tempos como agora, confiança se torna um bem mais raro e precioso que ouro. “Belgriim”, comecei, “há muito tempo, antes da Grande Queda, quando ainda havia ordem e paz no Velho Mundo e as religiões serviam de consolo e força para todas as raças, uma poderosa sacerdotisa previu que o Velho mundo seria transformado de uma maneira jamais pensada. A profecia estava dividida em três fatos: primeiro, A Grande Queda: todas as formas de religião ou comunhão com seres naturais ou com a própria natureza seriam desfeitas. Assim seria também com as formas de governo. Nenhuma criatura conseguiria sustentar qualquer ordem pelo tempo necessário para sua afirmação. Como resultado, o caos se espalhou pelo Velho Mundo. Dos ritos tribais das Altas Florestas às grandes catedrais do Culto Celeste estava tudo acabado. Não há crença que seja sustentada a ponto de provocar uma mudança. O mesmo com as ordens. Dos conselhos silvícolas aos grandes impérios, tudo desfeito. Neste tempo, mesmo o Conselho dos Benfeitores já deves estar diluído; o segundo fato trata da chegada da ‘noite perpétua’. Todos os lugares, todos os seres, todo ânimo e esperança seriam envolvidos pela escuridão, revelando o terceiro fato: ao final do quinto ciclo de inverno, o Velho mundo será diluído. Perderemos nas trevas tudo o que conhecemos. Toda força criadora será dissolvida no escuro. O velho mundo chegará ao fim e uma era de dor, terror, medo, sofrimento e caos chegará. A velha sacerdotisa já acertou os dois primeiros fatos. Só me resta mais dois anos até a concretização do terceiro, e eu, a ‘única esperança’ do Velho mundo, sigo errando pelo caminho, falhando de vila em vila, na missão de encontrar o único ente capaz de modificar nosso desafortunado destino: o Mestre Restaurador. Um mago tão poderoso que é capaz de moldar dimensões como o oleiro que esculpe na matéria tirada das margens dos rios. Mas é tarde para mim. A falta de ânimo já alcançou meu coração e tudo que eu quero é ficar aqui parada, em silêncio. Por isso, Belgriim, eu te declaro livre. Acabo de cometer a maior falha de nosso Estudo: revelei meu destino. Onde que haja um Benfeitor, perdeu-se de vez a possibilidade que o Conselho possa existir Isso faz com que eu também seja agente da discórdia e do caos, mesmo contra a minha vontade. Estamos todos tomados por essa culpa. O Velho Mundo chegará ao fim.” Meus olhos transbordavam. Olhei para Belgriim através das minhas lágrimas. Fiquei surpresa ao perceber o quão sereno ele estava. “Solipseia, saiba que a dor e o medo de que falas não são capazes de assaltarem meu coração. Entendo agora como foi extinta a Villa de meus parentes e é possível que a vila do norte tenha levado o mesmo fim. Mas, tenho certeza, você entende que nosso povo não é deste mundo. Viemos pra cá de longe. Não tememos o destino do Velho Mundo. Não tememos o fim da fé, da esperança e da crença, pois esses não são valores de nosso mundo. Embora possamos entender o significado destas palavras, percebemos como elas são desnecessárias para nós. Nós simplesmente somos e não precisamos de um sistema de crenças para que isso seja por nós entendido. Assim, minha amiga, saiba que nenhuma escuridão ronda meu coração. Se uma força tenebrosa ronda a fim de separar a todos que são deste mundo, entenda que isso não acontecerá comigo, pois não sou deste mundo. Bem como desânimo algum tocará meu coração. Vamos em frente. Encontremos esse tal Restaurador!

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  15. Após um ano de caminhadas por vilarejos destruídos, Solipseia e Belgriim chegaram ao que antigamente fora uma cidade próspera de renome comercial nos dois hemisférios. A escuridão permanete fazia a cidade parecer assustadora. os edifícios, construídos em níveis diferentes de terreno, estavam desertos. Ouvia-se um grito ou outro vindo das ruínas. Depois da Grande Queda, a cidade de Herillor sofreu guerra após guerra, saque após saque, assalto após assalto. O primeiro golpe - muito triste - foi a Guerra Civil. Pai contra filho, irmão contra irmão. A cidade ficou dividida entre aqueles que acreditavam que a ordem era possível de ser restaurada e aqueles que preferiam o caos. Dois terços da população foi assassinada. O pouco que sobrou (os mais fortes ou sorrateiros) se contentava em viver de migalhas, alimentos velhos, animais doentes. Vez ou outra, uma caravana perdida na estrada, um grupo de salteadores em busca de tesouros abandonados ou uma família de tolos que acreditavam encontrar algum sucesso em Herillor - saudosos de anos mais felizes - chegavam desavisados àquele inferno. A violência brutal que encontravam não seria relembrada, pois não havia escapatória. Assalto, estupro, tortura. Herillor se transformara em um antro de dor e sadismo. A morte poderia chegar rapidamente se o destino você generoso com você. Caso contrário, Herillor não perdoaria sua invasão. Há alguns meses, os dois viajantes encontraram aquele que talvez fosse a única criatura de quem se tem notícias de ter voltado de Herillor. Delcher, de Bengaror, chegou àquela terra na esperança de buscar sua irmã - que vivia com o marido em uma vila de artesãos - Delcher não encontrou a irmã. Encontrou mutilação e canibalismo. ficara preso por dezesseis luas em um porão, com aqueles que serviam de gado para os últimos habitantes de Herillor. Homens, mulheres e crianças. Alguns tinham menbros decepados e, na pior das sortes, esperavam mais tempo pela benção da morte que tardava em sanar suas dores. Delcher narrava estas histórias terríveis e pedia que ambos não fossem por aqueles caminhos. Contudo, uma informação dada pelo cavaleiro de Bengaror animou os ânimos. Delcher, na prisão, ficou sabendo que nas periferias de Herillor, em uma caverna ao pé da montanha que dá nome à cidade, um velho mago vivia isolado. Seu poder impedia a entrada dos malditos nos quais se tornaram os habitantes da cidade, mas não podia dissipar o cerco que se fizera à porta da caverna. Como não houvera sucesso na empreitada, os sádicos canibais de Herillor decidiram por bloquear a passagem da montanha. O velho mago não serviria como alimento ou escravo, mas também não lhes atrapalharia os planos. Com estas novas, Belgriim e Solipseia entravam na cidade de Herillor, o cheiro de bolor e morte esperava por eles do outro lado do portão. Seria necessário cruzar toda a cidade para chegar ao setor norte e pegar a estrada curta que ia em direção à montanha. Não havia outro caminho. A esperança de encontrar o Restaurador estava sustenntada por uma força muito frágil, como uma vela acesa à beira de um penhasco, lutando contra a força de ventos que já atravessaram o mundo.

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