sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

"O Herói"

 "A Chuva"

  Ele voltou para cá há alguns dias apenas, sem a ninguém comunicar de seu retorno. Os vários forasteiros das Planícies do Norte que rondavam nossas terras já não estão mais aqui. Como que abrindo caminho, ele entrou na cidade, tomando de todos a atenção. Usava ainda seu belo terno cor de fumo, sem se importar com um notável rasgo em suas costas.
  A chuva parecia não afetar-lhe, e de fato, nem mesmo o atingia. Nada havia no mundo que pudesse ofuscar a luz que dele emanava. Um homem de grande imponência. Andava pelas ruas como um fantasma; um belo fantasma, por todos admirado. O cigarro em sua boca parecia apenas ignorar a água que do céu desabava, continuando a queimar. Parou à porta de sua mansão, abriu-a e foi-se casa adentro.
  É ele o nosso orgulho. A quem todos temem. A quem todos admiram. Todos conhecem sua história, e não se cansam de conta-la. Ainda há quem não goste dele - talvez por inveja -, mas ninguém há de negar seus grandiosos feitos. Alguns afirmam que ele já havia estado na Torre; outros dizem que ele mesmo a tinha construído. Mas, independentemente do que digam, ele é um herói; o maior deles.
  Filho do próprio Lifo, fundador da cidade que leva o mesmo nome de seu criador, ele é o nosso herdeiro. Hoje em dia, conhecemos esta cidade apenas como "A Terra da Chuva", talvez pelo fato de seus próprios habitantes terem esquecido o seu nome original. Como filho de Lifo, ele já tinha lá suas obrigações; defender a cidade era seu destino, desde o momento em que nasceu. Com o tempo, passou a ser chamado de "O Guardião do Sono". Todas as noites, lá estava ele, sempre vigilante em seu posto, guardando nossas almas como se dependesse delas.
  Depois que seu pai morreu, seguiu para as montanhas, como manda a tradição. Jurando voltar, deixou para trás uma linda mulher e seu casal de filhos. Muitos rumores sobre ele chegaram aos nossos ouvidos, alegrando nossos corações e alimentando nossas esperanças. Até que, poucos dias atrás, ele entra novamente pelas portas da cidade, do mesmo jeito que a havia deixado, cinco anos antes.
  Provavelmenteele já sabia sobre a chuva, que caía incessantemente sobre nós; talvez por isso tenha voltado. Muitos tem medo do que ele fará sobre o assunto. Nosso maior orgulho também é, para muitos, uma grande ameaça. "O que faria ele quando soubesse dos sumiços?", diziam eles.  Uns tantos temiam até que ele se revoltasse contra a Torre, exigindo explicações. De qualquer modo, o que vai acontecer agora, ninguém sabe. Desde que chegou à cidade ele  não arredou o pé de casa... Só nos resta esperar, e torcer para que nada de terrível aconteça novamente.
  

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